Era uma vez em um reino encantado, uma garotinha que encontrou seu primeiro amor. Seu príncipe não apareceu montado em um cavalo branco com rosas, e seu amor não era proibido por uma antiga rixa entre as duas famílias.
Eles se cruzavam todas as manhãs, mas não se conheciam, nem mesmo notavam um ao outro. É incrível como essas coisas acontecem quando e onde você menos espera, não é verdade?
Um belo dia, Príncipe lhe manda uma carta pedindo humildemente ajuda de Garotinha para conquistar sua Irmã. Na carta ele dizia que as via todos os dias e tinha se apaixonado por Irmã. Garotinha não se lembrava dele, mas resolveu ajudar. Afinal, quem nunca deu ou quis dar uma de cupido?
Com o passar do tempo, depois de muitas cartas trocadas, Príncipe e Garotinha descobriram muitas coisas em comum, principalmente em seus gostos musicais. Um dia, Príncipe resolve abrir seu coração e Irmã o rejeita. Mal pela rejeição, com o coração dilacerado, Príncipe procura consolo com Garotinha e obtém toda atenção possível.
Depois de muito discutirem as possíveis causas da rejeição de Irmã, em uma bela manhã ensolarada, Garotinha acorda em um salto e diz: “Eu gosto dele.”. Movida pela emoção da descoberta ela escreve uma singela carta com algumas palavrinhas meladas e uma música romântica e envia para Príncipe.
Ele não a rejeita como o rejeitaram.
Eles vivem um lindo Felizes Para Sempre, por um tempo demasiado curto. Garotinha surta ao ouvir algumas pessoas e conclui que Príncipe tem vergonha de mostrar ela como sua Amada em público. Eles terminam.
Garotinha fica arrasada.
Príncipe talvez tenha ficado também.
Após seu surto ter terminado, Garotinha procura Príncipe e diz que foi tudo um erro. Diz que não consegue viver sem ele, que ele a faz feliz mesmo se não quiser mostrar ela à seus amigos da Corte. Ela aprende o verdadeiro significado de amor.
Mas, Príncipe não a quer de volta. Ele reconhece que tem vergonha por ela ser uma plebéia e que não irá fazê-la feliz.
Garotinha não desiste, tenta reconquista-lo por um tempo, e depois adoece. Fica fraca, não sai de casa, não fala com ninguém. Sua condição psicológica só agrava seu quadro clínico.
Um dia, quando ela se sentia mais forte, resolveu sair para passear um pouco. Ela encontra Príncipe. Ele a vê meio caída, pergunta se ela está bem e ela fala que está doente. Ele não tem reação. Fala que o fato de estar doente, só acentua mais sua decisão de ficar longe dela. Admite que as palavras carinhosas e as vezes que tinha brigado com ela por ciúmes, não passavam de uma encenação. Ele havia ficado com ela por pena.
Garotinha preferia ter ganhado uma espada pelas costas do que ouvir ele falando isso. Príncipe, o homem que a fez aprender o significado da palavra amor, não se importava se ela vivia ou morria. Não se importava se estava bem ou mal.
Mas como vaso ruim não quebra fácil, ela se recuperou da doença e pôs-se a viver sua vida, de volta ao “normal”. O mais difícil era ter que encarar Príncipe todos os dias, e se lembrar de tudo o que aconteceu.
Assumiu seu papel em toda essa encenação e adotou um novo nome: Death. Porque a morte lhe seria mais agradável do que o que ela passava.
Por um tempo, ela só conseguia se lembrar do final. De como tudo terminou, as ofensas trocadas, corações partidos, almas despedaçadas. Ela se perguntava: “E onde ficaram as lembranças boas? Onde ficaram todos aqueles sentimentos vividos e sentidos pelos dois?” Por ela, ao menos.
Ela aprendeu o que significava amor.
E não queria mais senti-lo.
Não valia a pena todo aquele sofrimento, se nem as partes boas ela não conseguiria lembrar depois.
Garotinha fez coisas estúpidas em seguida. Coisas que ela se arrependeu por um tempo. Coisas que culpou Príncipe por ter feito. Coisas que renderão boas histórias de lições da vida para seus filho e netos.
Ela se arrependeu por um tempo.
Martirizou-se por outro.
Não conseguia encontrar a felicidade em nenhum lugar.
Hoje ela não se arrepende de nada que fez. De nada que aconteceu.
Hoje, depois que tudo ficou mais claro, ela queria saber a outra parte da história. Queria saber da versão de Príncipe.
Mas ela sabe que isso não vai acontecer.
Essa história está no passado. E é lá que ela deve ficar.
Hoje todos os personagens vivem um novo Conto de Fadas.
Se lembrando ou não do passado.
Do que aconteceu ou não nessa história.
Sendo orgulhosos de mais para cumprimentar um ao outro.
Ou cuidadosos.
Medrosos.
Tudo serviu de exemplo pra ela.
Afinal, como saber que um corte de papel dói se não se cortar com ele?
Não foi culpa de Príncipe.
Não foi culpa de Irmã.
Não foi culpa das pessoas que falaram com ela.
Nem das pessoas que falaram dela.
Não foi culpa do destino.
Se existe um grande culpado nessa história, é Garotinha. Ela que começou tudo, ela que seria a culpada.
E assim termina o Conto de Fadas.
Ao menos é como termina o de Garotinha.
E hoje? Hoje ela aprendeu a controlar o que sente.
Ao menos controlar o que ela quer que os outros saibam o que ela sente.
Hoje ela consegue se lembrar das partes boas. Dos sentimentos vividos. Dos toques, carícias e cheiros.
Hoje ela sorri bobamente quando lembra do que viveu.
Hoje ela começou uma nova história. Cuidando para não cometer os mesmos erros.
E sem príncipes, sapos ou vampiros porpurinados.
Ao menos até agora.