sábado, 12 de fevereiro de 2011

Morangos Mofados - Caio F. Abreu

"Mas tentamos tudo, eu digo, e ela diz que sim, claaaaaro, tentamos tudo, inclusive trepar, porque tantos livros emprestados, tantos filmes vistos juntos, tantos pontos de vista sociopolíticos existenciais e bababá em comum só podiam era dar mesmo nisso: cama. [...]
 ... pela primeira vez na vida, você disse, e eu acreditei, pela primeira vez na vida, eu disse, e não sei se você acreditou. [...] 
Não que fosse amor de menos, você dizia depois, ao contrário, era amor de mais, você acreditava mesmo nisso?"


"... tem coisa mais autodestrutiva que insistir sem fé nenhuma?"


"me deseja tambem uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez, que leve para longe de minha boca este gosto podre de fracasso [...] nos prendemos no meio da estrada e nunca tivemos mapa algum"


"fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era."


"Como uma cópula moral, uma foda ética ou etílica, sabe-se lá a que requintados níveis de abstração, perversidade ou subterfugio podem chegar certas trepadas. [...] numa espécie de sedução pelo avesso, pelo ideológico, não pelo estético"


"permanecia mudo parado suspenso entre várias coisas que ja não eram e outras tantas que poderiam vir a ser, ou não"


"Agente queria fica apertado assim porque nos completávamos desse jeito, o corpo de um sendo a metade perdida do corpo do outro. Tão simples, tão clássico."


"Preciso tentar certa ordem no que digo, e dizer de novo, vê se me entendes: ele não se afasta, mas é dentro dele que eu me afasto. Dentro dele, eu espio o de fora de nós. E não me atrevo."


"Há um excesso de cores e de formas pelo mundo. e tudo vibra pulsátril, fremindo."


"...eu queria minhas aquelas mãos que o tocavam e também meus aqueles dedos e minhas ainda aquelas narinas e aquela língua lambendo o membro rijo dele até deixá-lo empinado o suficiente para, com muito cuidado, entrar rasgando de prazer e dor. [...]Olha, ouve e repara: essas sinuosidades são de cobra, não de ave."


"Assim eu próprio, me parecendo a mim mesmo, de um lado para o outro, entre cigarros sem sabor, jornais sangrentos e a certeza de que o único fato que poderia deter minha parida seria a tua aceitação deste convite: não queres me ajudar a matá-lo?"


"Eu contei: pelo tronco da árvore, de um lado a outro do precipício, eu atravessava. Foi quando parei, com medo do abismo. Não voltaria, nem iria em frente."

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