Certo dia, Pedro estava sentado em sua costumeira cadeira em frente a única janela de sua casa que dava para apreciar o movimento corriqueiro, do dia-a-dia, que se passava na rua de ladrilhos, cobertos pelas folhas caídas de outono das mais belas pessegueiras que conhecia desde criança, quando subitamente a porta se abre e uma mulher alta, esguia e muito bem maquiada, para esconder as rugas adquiridas ao longo de seus cinqüenta anos. Vera, sua irmã, vinha visitar-lhe uma vez por semana, para assegurar que Pedro estava bem e se faltava-lhe algo.
Pedro era um homem solitário, que raramente saia de casa após a morte de sua filha e esposa em um trágico acidente de carro, de onde ele foi um feliz, ou nem tão feliz, como ele dizia, sobrevivente.
Todo ano, no mesmo dia e mês, ele sentava na mesma cadeira, no mesmo lugar e permanecia na mesma posição o dia inteiro. Quando perguntavam-lhe o por que de sempre repetir o mesmo feito ano após ano, durante vinte e cinco anos, a resposta era pronta e imediatamente a mesma:
- Elas vão voltar. Tenho certeza que virão me buscar.
Vera, já cansada desse luto infinito que o irmão se propusera, questionou-lhe mais uma vez, e como a resposta foi a esperada, ela dirigiu-se à janela aberta e trancou-a com força, fazendo um ruido estridente ecoar pela sombria e quieta casa. Pedro, por sua vez, levantou-se lentamente após encarar a janela fechada por um breve momento, e dirigiu-se a mesma para abri-la novamente.
Assim que aberta, Pedro olhou sua irmã nos olhos castanhos, idênticos aos seus, e com uma mistura de felicidade e medo, proferiu aquelas que seriam suas últimas palavras:
- Eu disse que elas viriam me buscar.
E com um súbito baque, ele caiu deitado inerte sobre o assoalho mal encerado de sua velha casa, fazendo sua irmã ajoelhar-se ao seu lado em desespero e angústia.
Finalmente, o dia chegara. Finalmente, ele reencontraria suas tão amadas mulheres. Finalmente, encontraria sua felicidade. Finalmente, ele viveria.
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