terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Noite fria

            

            Mais uma noite fria iniciava-se na mesmice rotineira da vida de um universitário.
            Um homem sentado em um banco gélido, situado exatamente ao centro do espaço reservado aos fumantes, escreve compulsivamente em seu caderno, apoiado sobre a mesa à sua frente, com sua lapiseira negra como a noite sem estrelas. Uma brisa leve teima em chocar-se contra seus cabelos castanhos sedosos, fazendo sua pele branca brilhar ao refletir a pouca luz que cai sobre ele.
            Incomodado por sua folha, ainda presa no caderno, ficar debatendo-se incessantemente contra sua mão, apoiada levemente sobre o fim do espaço ainda não preenchido por sua miúda letra, deposita sua pequena borracha acinzentada por seu uso constante, todos os dias, em todos os textos, em todo lugar que ele sente e pare pra pensar e passar para um simples pedaço de papel seus sentimentos. No canto oposto da página de onde ele parou brevemente de acrescentar mais e mais palavras, dando, assim, sentido à frase e  conseqüentemente, ao grande texto que havia criado sobre a anteriormente branca página.
            Ao sopro mais forte da brisa, que já tornara-se um vento balançando as folhas verdes das pequenas palmeiras, iluminadas por luzes de postes finos e altos, sua borracha é jogada ao chão de tijolos desgastados por tantas pessoas já terem pisado sobre eles.
            Em um movimento brusco, mas mesmo assim gracioso,  homem de estatura mediana dobra-se em um contorcionismo que chega a ser hilariante e pega sua borracha, juntando com o resto de seu material espalhado sobre a mesa, e sai correndo para sua sala, onde iniciava-se sua próxima aula.

Nenhum comentário:

Postar um comentário